O(a) seu(sua) orientador(a) é daquele(a)s que dizem que você está tomando as decisões erradas? Sabia, que na grande maioria das vezes você está certo(a)? Nesse post vou listar 5 situações que acontecem na pós-graduação e que você precisa saber como lidar.
Entendendo o porquê desse post
Passou no mestrado ou no doutorado? Parabéns! Jornada nova, novos planos.
Não queira conduzir este novo ciclo da sua vida permitindo que outras pessoas decidam por você ou simplesmente deixando as coisas acontecerem “naturalmente”. É normal o(a) orientador(a) querer que você se dedique exclusivamente a pesquisa. Ele(a) quer ter um time dedicado e não está errado(a) por isso.
Por outro lado, você que sabe se está disposto(a) a isso. Se tem condições financeiras para viver com uma bolsa. Por que estou falando isso? Porque o posicionamento é fundamental na pós-graduação. Se você não tiver pronto(a) para ser bolsista, precisa deixar isso claro. Se você é bolsista e surgiu a oportunidade de trabalhar ou fazer um concurso de substituto, por exemplo, vá!
Converse com seu orientador(a) e mostre que você está decidido(a) a ter essa nova experiência e fonte de renda. Experiência é fundamental para o mercado. Quando se sai da pós-graduação “só” com experiência de cientista, o mercado entende que você está qualificado(a) demais para assumir uma profissão que só exige graduação. E por isso que tem cientista desempregado(a).
Então decida por você! Levando em consideração o seu contexto e o que almeja profissionalmente fazendo o mestrado ou doutorado.
Por 10 anos eu vivi na roda do hamster, deixei de viver a minha vida para me dedicar 100% as atividades do laboratório… na grande maioria das vezes, as atividades dos outros. Ludibriada pela ideia de que eu deveria publicar o máximo possível e facilmente seria aprovada no primeiro concurso que fizesse.
Quantas vezes já ouvi: “Paula foque nos trabalhos em parceria e deixe seus trabalhos pra lá que no final a sua pesquisa também sai”. Ok a minha pesquisa saía, mas porque eu me dedicava muito pra isso. Não só pela minha pesquisa, como pela dos outros.
Em todo trabalho que fiz em parceria, preparei amostras, analisei os materiais, escrevi metodologia, resultados e discussão. NUNCA alguém que analisou minhas amostras fez isso por mim. Eu recebia os resultados crus por e-mail e mesmo que eu não entendesse da técnica, me virava para estudar e analisar os dados.
Não estou falando tudo isso pra dizer que foi algo ruim na minha vida acadêmica. De forma alguma! Aprendi muito durante essa etapa. E foi isso que me trouxe até aqui. Mas, hoje vejo o mundo acadêmico não com olhar ingênuo de alguns anos atrás, pensando apenas em publicar. E sim, com o olhar maduro e estratégico de quem já passou por muita coisa, que não precisava ter sido de tal forma. Tantos anos de entrega, para muita privação de liberdade e retorno financeiro.
Se eu pudesse voltar no tempo, teria me dedicado também a estudar sobre empreendedorismo, teria feito o concurso de professora substituta que eu queria enquanto aluna de pós-graduação e fui convencida a não fazer, sob alegação de que não valia a pena. Eu teria aproveitado de forma mais diversificada a pós-graduação. Não teria me dedicado exclusivamente a pesquisa.
Não estou dizendo que você não deve se dedicar a sua pesquisa. E sim te dando o conselho de que diversificar o investimento dos esforços, pode te dar mais oportunidades do que você teria só se preparando para um concurso de professor efetivo. Pois infelizmente, os concursos não absorvem toda a mão de obra qualificada que é formada.
Por isso, hoje venho te alertar, que nem sempre você está errado(a) como alguns superiores dizem. Hoje, vejo quantas vezes eu estava certa e era convencida que estava errada, simplesmente por estar abaixo na hierarquia acadêmica.
Farei esse alerta comentando sobre 5 situações que acontecem na pós-graduação e que você precisa saber como lidar.
1. Como definir a autoria dos artigos científicos?
O seu orientador ou sua orientadora provavelmente acredita que ele(a) deve definir a autoria dos artigos científicos.
Mas pense comigo:
Ele(a) sabe exatamente tudo que você fez na pesquisa e todas as pessoas que te ajudaram?
Se a resposta for sim, tudo bem ele(a) definir a autoria.
Mas, naquelas situações em que o(a) orientador(a) não acompanhou a execução da pesquisa, provavelmente ele(a) não sabe quem efetivamente te ajudou.
Neste caso, você que deve definir a autoria e explicar o porquê cada uma dessas pessoas deve estar ali.
Estou falando isso porque, infelizmente, ainda existem aqueles orientadores que não definem a autoria do trabalho de forma transparente. E com isso, removem alunos de pós-graduação ou iniciação científica que efetivamente ajudaram na execução do trabalho e colocam professores renomados para facilitar a publicação. Ou ainda possuem pactos com outros parceiros para sempre colocarem os nomes uns dos outros nos trabalhos e assim todos crescerem em número de publicações.
Aqui vai um Disclaimer: Existem situações em que entram na autoria do trabalho outros pesquisadores por parcerias já existentes, investimento na pesquisa, que muitas vezes você nem sabia. Por isso, a transparência nos grupos de pesquisa é tão importante.
É triste, mas essa é uma situação que ainda acontece ao redor do mundo e tem impulsionado que medidas de combate sejam tomadas, conforme disposto nesse post da Scielo: https://blog.scielo.org/blog/2018/03/14/criterios-de-autoria-preservam-a-integridade-na-comunicacao-cientifica/#comments.
Deve fazer parte da autoria de um trabalho aquelas pessoas que ajudaram na concepção da ideia, colaboraram com a metodologia, analisaram os dados, captaram recursos, e principalmente, que escreveram o artigo.
A autoria de um trabalho deve ser definida em ordem decrescente de contribuição, começando por quem mais escreveu (provavelmente você) até quem menos escreveu no artigo, mas que contribuiu em alguma das situações acima descritas. O(a) orientador(a) é sempre a última pessoa.
Dessa forma, um jeito efetivo de definir a sequência de autores, é contando quantas palavras cada um escreveu. Caso duas ou mais pessoas tenham se dedicado da mesma forma na escrita do trabalho, você pode colocar um asterisco (*) no nome delas e escrever:
*Os autores contribuíram igualmente na escrita ou desenvolvimento deste trabalho.
Assim, para fins de currículo, aceita-se que aquele número x de pessoas foram primeiros autores. Isso é importante para aqueles baremas que pontuam melhor a primeira autoria.
Veja o exemplo abaixo:
A autoria de um artigo traz consigo muita responsabilidade. Afinal é o seu nome que está ali e você é co-responsável por tudo que está escrito e divulgado mundialmente. Por isso, ao escrever o artigo, você deve colocar quem de fato te ajudou no trabalho e alocá-los nesta ordem que comentei acima.
Infelizmente, ainda existem aqueles orientadores que não leem o trabalho, apenas mudam toda a autoria, baseado naqueles interesses próprios que comentei acima. Nestas situações, o(a) aluno(a) deve conversar com o(a) orientador(a) e explicar porque cada autor está ali e convencê-lo a deixá-los. Pois hoje é o(a) seu(sua) colaborador(a) que está perdendo injustamente uma publicação, amanhã pode ser você.
Lembre-se: o combinado não sai caro!
Por isso, uma forma de evitar problemas desse tipo é combinar (e documentar) com seu orientador ou orientadora, a autoria do artigo, na hora que estiver delineando o mesmo. Dessa forma, você tem a oportunidade de refrescar a mente do seu (sua) orientador(a) acerca daquelas pessoas que precisam ser co-autores do artigo.
Na tentativa de resolver esse tipo de problema, as revistas científicas tem obrigado os autores a declararem exatamente quais foram as suas contribuições na pesquisa, de forma a justificar a sua presença ali. Afinal, deve ir num artigo aquelas pessoas que efetivamente ajudaram na execução daquele trabalho.
Aquelas pessoas que permitiram uso de equipamento ou fizeram participações menores que não impactaram diretamente na execução da pesquisa, podem ir nos agradecimentos (https://www.pnas.org/content/115/11/2557).
Por isso você está certo(a)! Você define a autoria dos trabalhos. E quando fizer colaboração com outras pessoas, faça questão de participar ativamente inclusive da escrita. Assim, você garante a sua chance de fazer parte da autoria e aumentar o seu número de publicações.
2. Em que tipo de produção investir as suas energias?
Engana-se quem acha que publicar apenas artigos científicos garante aprovação em alguma seleção. Primeiro, que um concurso não avalia apenas currículo. Segundo, que numa análise de currículo, não se leva em consideração apenas artigos científicos e sim a diversidade da produção.
Além disso, quando se avalia produção, os editais limitam a pontuação pela quantidade e atualidade. Ou seja, existe um número máximo de produção e que sejam dos últimos 5 anos.
Por exemplo, eu tenho 65 artigos científicos publicados, quando fui concorrer em um concurso, apenas 6 artigos com qualis A e B já contemplava a pontuação máxima do barema (30 – veja imagem abaixo). Ou seja, eu não precisava ter investido todas as minhas energias só em publicar artigos.
Se tem uma coisa que aprendi com esse concurso foi que não devemos viver apostando apenas em publicar artigos científicos. Outras produções como livros e patentes também pontuam bem nos editais.
Com isso quero dizer, que você deve assumir o controle da sua pós-graduação, definir as suas metas e diversificar a sua produção. Quantos artigos você quer publicar? Em qual qualis? Quais outras produções também são do seu interesse?
Lembre-se: VIVER NÃO CABE NO LATTES!
3. Aluno(a) de pós-graduação tem que se virar sozinho(a)?
Diferente de outros países, no Brasil, os(as) orientadores(as) não tem secretário(a). Logo, acabam assumindo diversas funções, inclusive burocráticas, que sacrificam o seu tempo de ORIENTAR.
E o que é orientar senão guiar, mostrar qual caminho o aluno deve percorrer? Alunos(as) de orientadores que não orientam efetivamente, acabam sofrendo e tendo que se virar sozinhos(as).
Para um(a) orientador(a) ter um(a) aluno(a) que se vira sozinho(a), é muito bom. Aumenta a sua produção acadêmica e diminui as suas preocupações. Mas quanto custa se virar sozinho(a)?
Estudos mostram que alunos de pós-graduação sofrem com problemas de ansiedade, distúrbios do sono, depressão, etc (https://www.scielo.br/pdf/pe/v10n3/v10n3a12; https://scielo.conicyt.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0718-65682018000200207#:~:text=N%C3%A3o%20raramente%2C%20todos%20estes%20desafios,s%C3%A9rie%20de%20outras%20doen%C3%A7as%20ps%C3%ADquicas.; https://revistapesquisa.fapesp.br/disturbios-na-academia/)
Por isso, você está certo(a)!
Você NÃO tem que se virar sozinho(a).
A sua obrigação é conduzir a pesquisa sob orientação. E para cumprir essa obrigação mantendo a sua preciosa saúde mental, é preciso cobrar da outra parte a obrigação dela.
Enviou seu texto e não foi corrigido? Enviou uma dúvida e ela não foi sanada? Tem recurso no programa de pós-graduação para você ir num congresso e ainda não foi liberado?
Converse com seu(sua) orientador(a) e explique que você precisa deste feedback. Não tenha vergonha de cobrar. Orientadores(as) são muito atarefados(as) e é normal esquecer. Eles(elas) normalmente não se incomodam de serem lembrados.
Seja um(a) aluno(a) motivado(a), corra atrás da execução da sua pesquisa. Mas não faça disso um fardo que precisa carregar sozinho(a). Conte sempre com apoio e colaboração do seu grupo de pesquisa e do(a) seu(sua) orientador(a).
A motivação é um elemento incrível na condução de excelentes trabalhos. Aguça a curiosidade e a vontade de fazer mais e melhor. Mas não há motivação que sobreviva a uma orientação onde não há reciprocidade (http://www.anpg.org.br/11/04/2017/quando-a-relacao-professorestudante-se-torna-abusiva-na-pos-graduacao/).
A academia precisa de mais reciprocidade e empatia.
4. Orientador não corrige os textos, e agora?
Alguns orientadores não corrigem os textos dos alunos, deixam esse trabalho para a banca e na hora da avaliação, ainda cobram dos alunos aquilo que deveriam ter ensinado previamente.
Já vi algumas situações como esta. É muito triste e difícil para o(a) aluno(a).
Não permita que isso aconteça com você.
Cobre quantas vezes forem necessárias. Converse com seu(sua) chefe, explique que é importante pra você ter o seu trabalho corrigido e saber onde pode melhorar. Não marque a sua qualificação ou defesa sem que o seu texto tenha sido corrigido pelo(a) seu(sua) orientador(a).
Ele(a) precisa cumprir sua obrigação de orientar!
Se você quer dominar o passo a passo da escrita da sua dissertação/tese, ser autor da sua história e turbinar sua jornada rumo ao tão sonhado título de mestrado e doutorado, conte comigo no Tese Turbo.
5. Só faz pós-graduação quem quer seguir carreira acadêmica?
Muitas pessoas (alunos e orientadores) ainda acham que só faz mestrado e doutorado quem quer seguir carreira acadêmica. E isso é cada vez menos verdade.
Primeiro, porque tem muita mão de obra qualificada e não tem vaga para todos nos concursos públicos.
Alunos e orientadores precisam entender que as necessidades estão mudando. Que dentro de uma pós-graduação, não cabe mais ficar bitolado em publicações.
É preciso olhar ao redor, identificar oportunidades e conduzir a sua pós-graduação nessa direção… seja para empreender, passar em um concurso público, trabalhar numa indústria, etc.
Meu conselho pra você é: entre na pós-graduação com propósito. Tenha muito bem definido o porquê você está ali e se dedique a cumprir o seu planejamento.
Isso ficou muito claro pra mim quando conversei com uma amiga e ela falou todo o plano que tinha para a sua pós-graduação: fazer mestrado e uma especialização em estética. Após se qualificar e adquirir autoridade no assunto, abrir a sua clínica de estética.
Percebe que em nenhum momento se falou em fazer concurso para professor efetivo de uma instituição pública?
E quem disse que todos os docentes efetivos querem isso para a vida toda?
Apesar da tentadora estabilidade financeira, já ouvi muitos professores dizerem que não descartam a possibilidade de pedir exoneração e seguirem em novas empreitadas (e conheço alguns que já o fizeram).
É preciso saber viver e escolher o que nos fazem felizes.
É claro que os nossos planos podem mudar, mas é preciso ter em mente pelo que estamos lutando, é isso que nos motiva a lutar pelos nossos sonhos.
E sabe o que eu acho?
É preciso repensar as relações na pós-graduação.
O(a) pós-graduando(a) precisa sim dar o seu melhor na execução da pesquisa, mas sobretudo, pedir ajuda sempre que necessário. Não vale a pena sofrer sozinho(a).
Nunca permita viver sobrecarregado(a) de coisas que não são do seu interesse. Aprenda a dizer não e não deixe que nada nem ninguém te impeça de alçar novos voos. Só você sabe a vida que almeja ter.
Somos humanos, e os envolvidos no meio acadêmico precisam praticar cada vez mais a empatia.
Não são só os alunos que passam por dificuldades, os orientadores também. Mas, ao passo que aprendemos a enxergar o outro nas suas obrigações e fragilidades, todos crescemos juntos e em harmonia.
Resumindo:
- Tenha a sua estratégia definida e não se deixe levar pela vaidade das publicações.
- Cobre do seu orientador ou orientadora as suas obrigações, não esquecendo de cumprir as suas atividades enquanto aluno(a).
Desejo sucesso nas suas pesquisas.
Vamos estender esse post?
Deixe nos comentários com qual dessas situações você se identificou.